Coisas que aprendi com meu fogão à lenha
Para fazer meu fogão à lenha, com forno de ferro fundido e churrasqueira, o primeiro passo foi pesquisar bastante no youtube, em vários canais dedicados ao tema. O que mais me ajudou e recomendo é o do Daniel Galdino.
Mas, antes que meu fogão ficasse pronto, listo aqui alguns detalhes que aprendi neste processo.
NÃO TENHA PRESSA
O "tempo normal" de se fazer um fogão à lenha é em torno de 60 dias. Será preciso fazer 2 lajes, uma na base do fogão e outra acima do forno, na saída para a chaminé, que levam 30 dias para secar e obter a maior resistência. Eu demorei mais umas 2 semanas, pq na hora de levantar a chaminé, em cima de escada, "o serviço rende menos"...rs.
Aqui, eu fazia a primeira laje do meu fogão.
TENHA UM PROJETO
No meu caso, eu tinha um espaço na minha varanda. Bem ventilado e com uma parede de 1,75 m, onde ele se "apoiaria". Eu tinha uma foto que encontrei na internet, que me dava a noção das medidas que precisaria: "1,50 m de largura X 2 m de profundidade". A largura da parte onde fica o fogão propriamente dito ficou com 0,9 m
Esta a imagem que me serviu de base.
Os tijolinhos. Sem dúvida, o tijolo ideal para o fogão à lenha é o tijolo tradicional, de barro, maciço. Isola melhor o calor e resiste às altas temperaturas. Mas, os tijolinhos da foto são aqueles que tem cantos arredondados e uma aparência mais clara que os comuns (vermelhos). Custam 3 X mais caro. Não preciso explicar pq optei pelos mais simples, né? (Como eu já tenho tijolos aparentes na parede da varanda, não seria o caso de colocar tijolinhos bonitinhos e valorizar a beleza deles, né? Por isso, preferi cobrir a maior parte deles com cimento queimado na cor marrom, que dá uma aparência "mais antiga, de infância"). Só a parte da chaminé que deixei os tijolos aparentes.
Percebe-se que "mudei algumas coisas". Vou Explicar pelo menos 2 delas aqui.
O forno. Me pareceu pequeno e com "um problema": para abrir a porta não poderia ter panela na chapa do fogão, pq ele abre "para frente". A solução foi "girar" o forno em 90º, deixando a abertura para a lateral direita do fogão. Detalhe. Como o forno que escolhi era o maior dos que encontrei à venda, ele precisava de espaço entre as paredes para o ar circular e esquentá-lo. No meu caso, como ele tem uma largura de 43 cm, eu precisava de deixar pelo menos 11 cm de cada lado livres (já incluído os refratários, que falarei depois) antes dos tijolos. Em resumo, eu precisava de um espaço entre a parede e o fim da lateral do forno de cerca de 84 cm. Ou seja, no meu projeto, o forno avançava mais para "a frente" do fogão. Para manter os mesmos 2 metros no comprimento, a solução foi "encurtar o rabo do fogão" (aquela parte que fica antes de onde coloca a lenha).
A FUNÇÃO É ESQUENTAR, MAS SEM EXAGEROS
A disposição do fogão, "perpendicular" em relação a parede era, além da questão do espaço disponível, uma "prioridade". É um conjunto que é feito para esquentar, mas se colado a uma parede pode esquentar o ambiente ainda mais. Além do que, a chapa do fogão descolada da parede, permite que as pessoas que irão se servir, usem os dois lados. (Sou destro. Não me perguntem a razão, mas já notei que para mexer nas panelas, prefiro ficar do lado esquerdo do fogão)
FALANDO EM ESQUENTAR
Os tijolinhos refratários. Eles revestem toda câmara onde vai a lenha e toda a parte ao redor do forno, inclusive na parte superior. A função deles é concentrar o calor onde precisa e evitar que passe o calor para onde não precisa (exemplo, as laterais do fogão ou nas lajes, que podem trincar com o excesso de temperatura). Eles tem 23 cm X 11,5 cm e 2,5 cm de espessura. São colados com argamassa AC-3 (a mais cara, infelizmente) e as cento e poucas plaquinhas que utilizei custaram praticamente o mesmo que um milheiro dos tijolinhos "normais". Na foto a seguir, vemos os refratários colocados na parte da churrasqueira onde fica o carvão e na parte inferior e começo da lateral de onde irá o forno. Eles também ficam no "túnel" onde coloca a lenha.
O MELHOR FORNO
Além do tamanho, tem o material e o tipo de frente dos fornos. Os mais baratos tem tampa de ferro fundido, mas a "caixa do forno" é uma chapa de aço fininha (1 mm), igual ao dos fornos de fogões à gás. Dizem que tem menor durabilidade e não esquenta tanto como os totalmente em ferro fundido. A diferença de preço era pequena, coisa de 20%. Então, comprei do mesmo fabricante, a chapa de 3 bocas com bifeira, o forno de ferro fundido, com vidro na porta e uma outra coisa muito importante: o regulador de saída de fumaça para a chaminé. Na prática, este regulador deixa sair mais ou menos ar, alterando a chama no fogão e a temperatura no forno. Recomendo de se colocar. (Por exemplo, não utilizei os chamados "cinzeiros", que são usados na churrasqueira e abaixo do forno, para facilitar a limpeza. Não achei tão necessários)
PREÇO FINAL
Complicado falar em valores em um país onde o dólar (e os combustíveis, e o arroz e o aço, etc) tiveram reajustes de mais de 40% no ano. Então, vou tentar fazer algumas correlações.
O que eu gastei comprando o kit acima (forno, chapa e regulador) representou cerca de 1/3 do valor final. Faça uma busca no Mercado Livre, veja o preço e multiplique por 3.
Foi mais ou menos o valor que eu pagaria por um conjunto pré-fabricado, tipo este da foto abaixo (Claro que aqui não coloco valores de mão de obra, pq eu mesmo que construí o meu).
Sobre estes "conjuntos", duas coisas eu posso afirmar: Primeiro, que os acho muito feios. Segundo, que o forno abaixo da altura da chapa do fogão não irá esquentar direito por uma razão lógica, de física básica, "ar quente sobe, ar frio desce". Ou seja, o calor não irá na parte inferior do forno. Há uma terceira ainda, mas esta eu só ouvi dizer, então, não posso "afirmar": o concreto não aguenta as altas temperaturas e trinca/racha logo. Ou seja, a durabilidade é pequena. O que eu fiz, espero ter feito apenas uma vez na vida e, se tudo der certo, ficará para meus herdeiros.
UMA DICA QUE FAZ TODA A DIFERENÇA
Tinha uma questão prática, operacional, que poderia colocar tudo em risco na hora de fazer, considerando que não sou um pedreiro profissional: a proporção exata dos materiais ao fazer a massa (argamassa) e o concreto. Tinha ouvido falar que era bom colocar um pouco de açúcar na massa, que evitaria trincas. Daí que acabei pesquisando e chegando nas seguintes proporções para a massa: "1 parte de cimento, 1 parte de agrofilito, 3 partes de areia média peneirada e açúcar".
Engraçado que o site que me deu esta dica, ele não chamava o agrofilito pelo nome, mas sim pela marca que era vendida em sua região, "Tropical". Tive que pesquisar na internet e descobrir que o tal "Tropical" vendido naquela região de MG é o que conhecemos aqui por "filito" ou "agrofilito". Na prática, é um componente mineral que dá elasticidade à massa, evitando trincas.
Só que eu tive que ir testando, pelo meu ritmo de trabalho as "quantidades". Não adiantava eu fazer uma quantidade muito grande de massa, porque não iria conseguir assentar os tijolinhos a tempo e ela iria endurecer, além de ser muito pesado misturar na mão grandes quantidades de cimento e areia. Então, usei um pote de sorvete de 2 litros como medida. Era um pote de cimento, 1 de agrofilito e 3 de areia (tem que peneirar). O açúcar era um copinho de cachaça (100 ml) a cada vez. Um pote era mais ou menos a quantidade de água a ser acrescentada.
Já o concreto era 1 parte de cimento, 2 de brita zero e 3 de areia (sem o agrofilito e o açúcar). Só tomando o cuidado de não exagerar na quantidade de água. Tinha que ficar "um farelo", pois conforme vc espalha o concreto, a água vai subindo. Se for em excesso, ficará um "concreto fraco".
UM TOQUE NOSTÁLGICO
Eu me lembro da infância, do cheiro do café sendo torrado no fogão à lenha. Daí a opção de fazer algo mais rústico, meio "vintage", utilizando o cimento queimado e os ladrilhos hidráulicos no acabamento. (O cimento queimado é simplesmente o uso de corante em pó "Xadrez" misturado com cimento). Os ladrilhos hidráulicos, que remetem às tradições portuguesas, do início do Século passado, foram sugestões de minha esposa. Colocamos apenas 10 unidades, mas que fizeram toda a diferença no visual. Ponto para ela.
AINDA SOBRE ACABAMENTO
No pé (ou no rabo, como queiram) do fogão, nas laterais, na borda inferior do forno e da churrasqueira, usei um porcelanato que lembra granito. Vi, nos vídeos de internet, que poderia ser utilizado. Custo-benefício, valia a pena (até pq comprei o porcelanato em uma promoção na loja). No caso de se usar granito, o indicado era o preto São Gabriel (mais resistente ao calor). Observei que no pé do fogão, ele não esquentou. O único lugar em que esquentava era nas laterais do fogão. Mesmo assim, só na parte mais interna, próxima da chapa. Isso pq eu deixei um "buraco" entre os tijolos nas laterais, exatamente para servir como isolante térmico. Em resumo, se der problemas mais para a frente, do porcelanato trincar, será só nestas duas laterais, que terei que trocar por cerca de meio metro quadrado do granito São Gabriel. Se isso acontecer, não será muito caro.
Acima do concreto, uma camada de tijolinhos afasta o calor. |
NO USO
Uma informação importante era de que o fogão precisava ser "curado". Ou seja, se acostumar aos poucos com as altas temperaturas, evitando problemas de trincas e quebras. (Os porcelanatos só foram colocados depois de acender o fogão algumas vezes, por isso)
Comecei colocando um fogo por pouco tempo. O forno nem chegou a esquentar.
Depois fui aumentando a lenha e o tempo. Descobri 2 coisas interessantes. Para esquentar o forno (até pq ele é grande), tem que levar as labaredas de fogo na câmara do forno. Isso se faz com lenha e abrindo o regulador de fumaça, que permite a chaminé "chupar" para dentro o fogo. Com um termômetro, conferi que a temperatura no forno passou de 250º C, chegando a quase 300º C. Depois, a temperatura do forno caia uns 50º C apenas depois de mais de uma hora sem alimentar o fogo. Ou seja, uma vez que esquentou, ele mantêm a temperatura (ponto pros tijolinhos refratários).
Para acender o fogão, eu coloco um pouco de capim seco junto com a lenha e boto fogo. Uso também um secador de cabelos para "soprar" e fazer o fogo se espalhar mais rápido.
Um ponto positivo é que a fumaça só volta para o pé do fogão logo que o acende. Depois que o ar frio é "expulso" do seu interior, a chaminé trata de puxar todo o fogo e a fumaça.
Para utilizar apenas o fogão, não é preciso tanta lenha, assim, não esquenta tanto o forno (algo em torno de 150ºC). Fiz isso neste fim de semana, mantendo o fogo aceso por quase 12 horas (até que a feijoada ficou pronta). O fogão foi aprovado no "teste de fogo". Literalmente.
Vou guardar esse texto, sua explicação fará eu acertar no meu Fogão a lenha. E queria dizer que terei pq justamente me lembra a casa da minha avó, o café torrado sendo passado e o bolo maravilhoso saindo do forno a lenha. Obrigada, por compartilhar!
ResponderExcluirEu que agradeço :)
Excluirum sonho (que certamente vou tentar em breve)
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