Comorbidades e Novo Normal

 A pandemia do Coronavírus alterou nossas rotinas, e não poderia deixar de ser, trouxe algumas novas expressões ao vocabulário, como "Comorbidades" e "Novo Normal".



No final de novembro agora, foi noticiado que uma senhora, de 75 anos, sofreu um infarto após passar por constrangimentos pelos funcionários e seguranças de um supermercado, no Jardim Botânico, DF, bem perto de onde moro (sorte minha que nunca pisei lá no tal mercado).

A senhora, acompanhada de 2 netos, foi acusada de furtar o chinelo que calçava durante as compras. Fez uma compra de R$ 600. (Imagino que este valor de compra esteja acima do ticket médio da loja, ou seja, mais um motivo para ser bem tratada) Só depois de analisarem os vídeos, constataram que era inocente. A funcionária do mercado se justificou que "uma pessoa, muito parecida com ela, teria furtado chinelos na loja, recentemente". Olha o perigo: qualquer vovó que entrasse lá, sofreria um "baculejo".

Para piorar a situação, o mercado fez um pedido público de desculpas, reconheceu a conduta inadequada de seus funcionários, mas, talvez orientado pelo departamento jurídico, tentou se isentar da culpa pelo infarto, alegando que a mulher apresentava "comorbidades". Reproduzo aqui o texto publicado na imprensa.

"Em razão de comorbidades e doenças pré-existentes, a Sra. M teve um quadro de mal súbito após sentir-se constrangida por um de nossos colaboradores devido à ocorrência de um fato isolado e também devido à sua idade". 

O que teria a ver as tais "comorbidades" e uma senhora honesta passar mal ao ser destratada diante de seus netos e demais pessoas no estabelecimento comercial?

Alguém poderia supor que uma senhora de 75 anos não mereceria ter, no mínimo,  atendimento preferencial? Imagina então ser "constrangida", literalmente, como uma "ladra de chinelos". O tal mercado diz se tratar de um "fato isolado". Como dizem nas redes sociais: "é raro, mas acontece muito". Já vimos antes.

Já o "Novo Normal" me chamou a atenção em um outdoor, também no Jardim Botânico, não muito distante do tal supermercado. Estava em uma propaganda de uma grande franquia de escolas particulares. A foto mostrava um adolescente feliz, meio gordinho, com o uniforme do colégio e uma mochila nas costas. O texto dizia algo como: "No colégio X o novo normal já é uma realidade".

Antes da vacina, em pleno crescimento do número de novos casos da pandemia? Como publicitário, entendo que a mensagem que tentaram passar foi "já superamos a Covid. Matricule-se já." 

Talvez funcione para boa parte da população que pode pagar o tal colégio particular e que insiste em frequentar shoppings, academias e viajar. Bem que eu achei o garoto com cara de idiota mesmo. Talvez tenha sido proposital, né?

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