O Zap-zap venceu a mídia tradicional
Quando fui decidir que faculdade que cursaria, acabei escolhendo Comunicação.
Na época, onde estudei era assim. Logo no início, matérias básicas de humanas, depois entrava nas mais específicas do curso, as "introduções a isso e aquilo" e, lá pelo meio do curso, se fazia a opção em uma das habilitações oferecidas: jornalismo, publicidade, relações públicas ou rádio, TV e cinema.
Logo que entrei, pensei que iria seguir no Jornalismo. Mas, não demorei muito a perceber que "não era a minha praia". Eu percebia alguns colegas, que depois se tornaram bons profissionais de jornalismo, comemorarem obter uma declaração ou uma informação de uma fonte. Vibravam mesmo. Eu não achava muita graça nisso, gostava mais de trabalhar o texto. De combinar as informações disponíveis a todos, com alguma originalidade e estilo.
Mas, 2 coisas foram fundamentais para que eu me decidisse pela Publicidade, onde, inicialmente, me tornei redator publicitário.
Primeiro, foi um professor dizer, com todas as letras, que existia "a verdade dos Frias", "a verdade dos Mesquitas", a "verdade dos Marinhos". Ou seja, apesar dos fatos ocorridos em um determinado dia serem os mesmos, cada empresa jornalística divulgaria no dia seguinte "a sua verdade". Ou seja, aquela filtrada pelas orientações empresariais, políticas e econômicas do patrão. E eram poucas famílias que controlavam a maior parte da imprensa.
Segundo. Perceber que na publicidade era obrigatório trazer a assinatura do cliente. Ou seja, quem estava pagando para que tal mensagem fosse veiculada. Pode parecer irrelevante isso, mas eu prefiro vender um lançamento imobiliário da construtora tal do que defender interesses econômicos ou políticos de quem preferia não se mostrar.
Exemplos não faltam. Privatizações talvez seja o mais evidente.
Lembro de uma das primeiras matérias que fiz para o jornal laboratório da faculdade. Era sobre o proálcool. Fiz tudo direitinho. Fui no Ministério, ouvi os burocratas, peguei as informações, e fiz, como se diz no jornalismo, uma matéria bem redondinha. Então, para "quebrar" o que me parecia burocrático, pedi para a colega que iria fazer a foto que ilustraria a matéria mostrar uma daquelas bombas novas dos postos, com o gatilho apontado para a câmera, como se fosse uma arma. Ela sorriu e falou: "só isso? Mole de fazer." Então, já com a matéria escrita e a foto em mãos, caprichei no título: "Álcool, o quê esperar desta bomba?".
A partir daí, comecei a trabalhar em Publicidade. Ok, que depois atuei no Marketing, fui Assessor de Imprensa e, claro, fiz até um pouco de Relações Públicas e Mídias Sociais. Ou seja, no fim das contas, sou mesmo um profissional de Comunicação. Como lá no início me propunha ser.
Ao ver hoje o texto do Nassif, que fala do "fim do poder" da velha mídia, me bateu um certo saudosismo. Ele diz: "A resiliência de Jair Bolsonaro nas pesquisas de opinião é mais um capítulo decisivo do fim de uma era no mercado de informações: o poder dos grupos de mídia, o mais relevante ator do mercado de informações durante todo o século 20. Foram mais influentes do que as religiões, os partidos políticos, os sindicatos, as associações empresariais".
Me lembrei de um dia elogiar a matéria que um colega jornalista tinha publicado em uma revista e ele me respondeu: "Não foi boa, não consegui derrubar o Ministro". Antes, até uma tapioca era capaz disso. Ou uma simples "pedalada fiscal". Agora, assistimos atônitos uma sequência infindável de descalabros e, feijoada, nada acontece. O zap zap mudou o "consumo de informações". Ou desinformações, na maioria dos casos.
Recomendo a leitura do texto do Nassif. https://jornalggn.com.br/noticia/a-resiliencia-de-bolsonaro-marca-o-fim-do-poder-da-midia-e-esta-e-uma-ma-noticia/
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